27 de março de 2014

sobre a depressão

Este é um tema com o qual tento sempre, sempre ter uma sensibilidade redobrada. Já tive amigos, familiares meus e de amigos, que passaram ou estão a passar por uma depressão. Surpreende-me sempre saber de algumas pessoas que nunca imaginei que pudessem passar por uma depressão e que a tiveram. Ou melhor, surpreendia-me mais antigamente, quando não compreendia muito bem o que era esta doença. Nunca tive nenhuma, já tive fases mais negras, mas sei que nunca tive mesmo uma depressão, nunca me deixei chegar a esse ponto. Tenho muito medo e muito respeito por esta condição. Por mim e pelos que a têm ou já tiveram. Acho a depressão assustadora, essencialmente, por aquilo que vi por causa da rapidez com que se pode instalar e mudar a vida a uma pessoa. O negro que traz à sua vida e aos que rodeiam a pessoa depressiva. Não consigo imaginar o que sente no seu interior uma pessoa nesse estado. Tento com muita força pôr-me no lugar dessas pessoas, mas sei que nunca será o mesmo. Tento arranjar justificações e fico frustrada quando chego à conclusão que possivelmente não há uma justificação completamente lógica e clara para o porquê de se chegar a tal estado. Tenho muita pena da falta de informação e apoio que existe com a depressão. Do tabu que existe, de um certo menosprezo com a doença. E acredito que muita desta desinformação é o que leva as pessoas a não ficarem completamente curadas e a voltarem às suas vidas a 100% e, possivelmente, a nunca encontrarem a plena alegria de viver. Vejo nas pessoas com depressão alguém perdido, alguém que já não se conhece nem a si e, por vezes, aos outros, alguém sem um ponto de abrigo, alguém que não gosta de si e que, nos casos mais graves, não gosta de viver. E é muito ajudar pessoas assim pois, se por uma lado, queremos prestar o nosso apoio, é sabido que se levamos, continuamente, ao colo pessoas que estão sem forças próprias para se erguer, essas mesmas pessoas nunca se conseguirão erguer sozinhas. E esse é, para mim, um dos desafios maiores quando se tenta ajudar alguém assim, encontrar o equilibro entre a ajuda e quando já estamos a fazer de mais e, consequentemente, a não deixar que a pessoas evolua por si. Das pessoas com quem contactei apercebi-me que a mudança só se dá quando a própria pessoa está preparada, quando arruma a mente e volta à luta, quando se sente novamente com forças. Mas essa mesmo pessoa chega a estar assim um dia por ter tido algum colo e algum aconchego, algum carinho, alguma atenção. Costumo dizer que se tem de levar a depressão como uma constipação, ambas são doenças e ambas têm tratamentos diferentes consoante as pessoas. A diferença entre as duas é que uma pessoa com uma constipação é olhada de maneira perfeitamente normal, a pessoa com uma depressão é evitada ou julgada. E, isso, nunca a irá ajudar.

6 comentários:

  1. É uma doença que não se vê, e por isso as pessoas julgam.
    A depressão as vezes instala-se sem que a pessoa dê por isso e quando ela toma conta, a pessoa já não tem forças para lutar.
    Não é fácil ajudar o que não se compreende.
    beijinho...
    : )

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Exactamente. Por isso que acho que se devia disponibilizar mais informação e tentar derrubar o tabu. Só ia ajudar todas as pessoas. As que sofrem e as que estão próximas.

      Eliminar
  2. Infelizmente, uma pessoa que me é muito próxima já passou por um quadro depressivo grave...não é nada fácil, mesmo para quem está "de fora"... Felizmente, hoje já está bem, mas foi uma fase muita má...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ainda bem que já passou. Que continue a correr tudo bem =)

      Eliminar
  3. Tal como diferentes constipações:) há diferentes depressões...podes "conviver" com alguém com uma depressão "latente" toda a vida...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso assusta-me muito... pensar que alguém próximo pode estar assim e não fazer ideia...

      Eliminar